Aquecimento global e mudanças climáticas são temas desafiadores sobre os quais devemos conhecer cada vez mais. A pesquisadora Fabiana Barbi contribui muito com seu livro Mudanças climáticas e respostas políticas nas cidades, que concentra, em seis capítulos, análises, propostas e levantamento dos riscos e responsabilidades dos governos e sociedades sobre as áreas de risco e populações vulneráveis, mostrando o que pode ser feito para mitigar, adaptar e tentar resolver o máximo de problemas relacionados às mudanças climáticas.

A obra é resultado de uma investigação da tese de doutoramento da autora e conta com uma bibliografia recente e dados atualizados que proporcionam uma leitura muito interessante e reflexiva sobre os reais riscos das mudanças climáticas e as respectivas responsabilidades da sociedade e dos governos municipais, estaduais e federal.

A pesquisa resgata o interesse já desgastado dos leitores sobre o tema, pois analisa e discute toda a complexidade das mudanças climáticas, deixando claro que não se trata de um problema meramente ambiental, mas também de um problema social, político e econômico que exige estudos, planejamentos, ações e limites da sociedade e dos governos do Brasil e do mundo.

Fabiana Barbi é socióloga, mestre em Ciência Ambiental (USP) e doutora em Ambiente e Sociedade pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam-Unicamp). A cada capítulo ela introduz brevemente o assunto ao leitor, finalizando com observações que enriquecem ainda mais a leitura, com uma visão experiente da interação entre ciência, meio ambiente, sociedade e governos em torno das mudanças climáticas. Esse cuidado da autora torna o livro ainda mais interessante, tanto aos leigos quanto aos especialistas no assunto.

Desde a introdução há a preocupação em tratar o tema e divulgar o que se sabe sobre mudanças climáticas de uma forma que sensibilize e interesse o leitor, certamente na tentativa de provocar uma reação social e governamental sobre a urgente necessidade de ações concretas em face dos problemas socioambientais que já estão ocorrendo e só tendem a piorar. Durante a leitura, vemo-nos em meio a tudo isso como cidadãos, como consumidores de tecnologias e produtos emissores de gases de efeito estufa e também como sujeitos que desconhecem grande parte das causas e dos reais riscos das mudanças climáticas.

Mesmo com a complexidade do tema, a autora não complica e divide o assunto em capítulos enxutos e bem escritos, com tabelas e esquemas bem estruturados e fotografias. O primeiro capítulo do livro trata dos riscos das mudanças climáticas e das responsabilidades e desafios dos governos na produção de respostas a esses riscos, que não são poucos.

A importância das respostas políticas no nível local é assunto do segundo capítulo, pois é nos municípios que ocorrem atividades humanas que contribuem com o agravamento do problema das mudanças climáticas, e os municípios também são os locais que mais sofrem as consequências desses impactos. A autora explica, porém, que quem ajuda a criar o problema também pode ajudar a resolvê-lo, por isso a necessidade de divulgar ainda mais esse tipo de pesquisa que discute a responsabilidade de todos perante as causas e os riscos das mudanças climáticas.

Os dados sobre as políticas climáticas das cidades e dos estados brasileiros são divulgados no terceiro capítulo do livro e mostram a importância das ações municipais na criação e na aprovação de leis estaduais e federais de mitigação e adaptação às alterações climáticas. O estado de São Paulo é uma referência importante para os demais estados do país, e o litoral paulista, em especial a Região Metropolitana da Baixada Santista, é destaque no quarto capítulo da pesquisa.

A importância biológica, geográfica, econômica e política do litoral paulista é tratada no quarto capítulo de modo dinâmico, apontando especialmente a vulnerabilidade, os problemas e as respostas políticas climáticas do município de Santos. Os desafios são muitos e de diferentes tipos, o que exige dos governos esforços além dos que estão sendo feitos atualmente. As respostas políticas climáticas locais, metropolitanas, estaduais e nacionais às mudanças climáticas e o modo como se relacionam (ou não) são analisados no quinto capítulo, como um diagnóstico.

A autora finaliza a obra no sexto capítulo deixando o leitor preocupado com a inexistência de políticas climáticas eficientes e suficientes no Brasil. Mas deixa à disposição, além da ampla análise do que já está sendo feito pelos governos sobre o tema, sugestões para a gestão pública, mostrando que há soluções reais para os riscos também reais das mudanças climáticas.

Tatiane Rossi é bióloga, mestre em Ensino de Ciências e especialista em Análise de Impactos Ambientais e em Educação Ambiental.

*Publicado no Jornal da Unicamp, 26/09/2016.

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